7/27/2006

RENASCIMENTO

Tentou segurar, mas escorria-lhe pelos dedos. O tempo. Sempre tão curto quando estão lado a lado.
Recusou-se a dormir àquela noite. Éra domingo. Não demoraria muito, e o gel, escova de dentes e o barbeador dele, logo voltariam para a bolsa de onde vieram. Sua calça pendurada na cadeira da sala, seus cd´s, chaves, moedas, carteira e celular, estariam cuidadosamente arrumados, preparados para voltar ao seu lugar de origem.
E tudo o que restaria seria a sombra da sua imagem de pé, de bermuda e sem camisa, lavando a louça do almoço... fazendo café para ela fumar seu cigarro de sempre. O digestivo. O botão de start que ativa a máquina inquieta que é seu pensamento.
Ficou ali olhando pra ele, sentindo o ar que lhe saía das narinas e soprava em seu rosto. Respirou fundo. Queria aquele ar em seus pulmões. Olhou o rosto dele cansado, marcado pelo tempo. "O mundo podia acabar assim." - pensou - "Numa grande cama, o sol entrando pela janela, todos dormindo ao lado das pessoas que amam, zelando pelo seu sono..."
Pensou melhor, mudou de idéia. O mundo não podia acabar. Afinal, ele tinha justamente acabado de começar. Ali, naquele momento!
Se a primeira coisa que fazemos na vida é inspirar e a segunda é chorar, ali estava a sua chance de nascer de novo, inspirando o ar dos pulmões daquele homem que dormia em seus braços e derramando lágrimas, de plena felicidade.

(Silvia de Almeida)

2 Comments:

At 7:07 AM, Anonymous Anônimo said...

Menina, que lindo! anota aí:isto inda vai virar livro. "Sobre nós 2 e o Resto do Mundo" - Editora Amores Perfeitos (ainda não tem, mas vai ter).
Um beijo

 
At 8:05 AM, Anonymous Anônimo said...

E não é? Mas o título nós roubamos da música e cd do frejat! Vamos ter que pensar em outro! Bjkas

 

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