8/01/2006

SOBRE NÓS

Uma borboleta pousou na beira da cama. Abriu e fechou as asas algumas vezes, bem lentamente, como só as borboletas fazem. Exibicionista. Voou pra fora do quarto, em direção a sala. Fechei o livro e fui atrás. Ela pousou no ombro dela. Junto das outras. Ela tava deitada no chão, alongando. A sua perna esquerda estava quase atrás das costas. Ela fazia isso diante de um espelho muito grande. Sua coxas, já muito generosas, ficavam, diria, solidárias com minhas retinas! Algumas borboletas, vindas dos bairros distantes, descansavam da viagem no seu corpo. Várias, de todas as cores e tamanhos. Pousadas na sua pele morena. Fui na cozinha peguei um pouco de água na geladeira e, antes de beber, joguei um pouco na nuca. No armário, peguei minha lata de Colorgin vermelho e voltei pra sala. Ela me olhou com o canto dos olhos e com um sorriso quase que imperceptível. Conheço àquele olhar. Ele me causa transtornos cardiovasculares no ato. Chacoalhei a lata com força e fui escrevendo os poemas nas paredes da sala. Com uma velocidade absurda. Escrevia um após o outro, sem descanso. De vez em quando à olhava. Ela estava lá, diante do espelho. Alongava os braços bem alto, deixando à mostra parte do seu abdômen, liso e moreno. E eu escrevendo os poemas dela. De vez em quando, nossos olhares se cruzavam. Não dizíamos nada, mas percebíamos tudo. Quando ela não estava olhando, observava pedaços do seu corpo. Uns closes, flashs rápidos das suas curvas. Na verdade, ela fingia que não me via olhando seu corpo. Se divertia com o meu voyerismo disfarçado, um tanto acanhado. Ela parou de alongar e acendeu uma vela. Era perfumada. Feita de girassóis. As borboletas voaram num único movimento. Sumiram. Ela encostou na parede, de braços cruzados e sorriu. Seu cabelo caiu na cara. E, com o seu rosto levemente inclinado pra frente, ela me encarava de baixo pra cima. Assumindo um clima desafiador. Como que esperando uma ação. Eu já estava com o braço doendo de tanto escrever. Sentei no chão. Ela sentou do outro lado. Ficamos olhando todas os poemas. Todas as paredes repletas de poemas pra ela. Contamos um, dois, três... trinta... cem... 1.000 poemas. Exatamente mil. E todos começavam com Baby e terminavam com vida. Nos encaramos por um tempo. Ela levantou e foi em direção ao quarto. E me olhou, daquele jeito. Pronto! Arritmia cardíaca no ato. Antes de entrar no quarto, ela piscou. Aquilo era como um cruzado de direita no queixo. Um cruzado do punho de Mike Tyson. Joguei a lata vazia que foi rolando até a outra parede. Sorri. Levantei e fui atrás, meio atordoado, muito apaixonado. Com a certeza difinitiva de que Deus existe! Entrei no quarto, fechei a porta e acendi a luz. Gostamos de muita claridade nessas horas.
Nós 2 gostamos de ver o suor nos nossos rostos quando nos tornamos 1.

(JCF)

3 Comments:

At 1:09 PM, Blogger  Pedro Pellegrino said...

Eu e a minha namorada adoramos esse texto.Abraço.

 
At 5:43 AM, Anonymous Anônimo said...

É realmente lindo não é Pedro? Valeu a visita, bjus!

 
At 8:04 AM, Anonymous Anônimo said...

A musa ajuda muito, Pedro. Abração

 

Postar um comentário

<< Home