8/07/2006

SOBRE NÓS E A DESPEDIDA

Dirigia no estacionamento à dias. Devagar. Lembrava do último olhar.
Estava perdido e sem destino dentro de um estacionamento gigante. Muito menor que a minha solidão paulistana. Estava com fome e com muita sede. O chão, espelhado, refletia os pneus do meu carro e o meu desespero urbano romântico. Lembrei dela encostada no pilar. Na mão direita, ela segurava uma frasqueira e a na esquerda uma bolsa, com coisas de mulher: carteira, baton, anti-àcido, perfume, a minha aorta e o que sobrou da insipiente sanidade adulta dos meus anos. Não conseguia sair. Onde será que tá a porra da saída?! Olhei no retrovisor e à vi no meu quarto, nua, comendo na cama e dizendo coisas pertinentes sobre o mundo, nossas tolhas molhadas, a lingua e o amor. Eu concordava com tudo. Olhei no porta luvas pra ver se achava uma caneta. Precisava anotar tudo isso e mandar um postal do meu bairro. Parei o carro e resolvi dormir. Preciso descansar. Nem vou procurar mais a saída. Daqui à pouco chega o próximo vôo do mar. Ela chega nele e me tira daqui. Só ela sabe.

(JCF)

3 Comments:

At 10:18 AM, Anonymous Anônimo said...

Já no Rio, ela decora paredes com os seus olhares e sente na garganta o gosto salgado das lágrimas de saudade que lhe invadem a boca, e secam a garganta.

 
At 10:30 AM, Blogger  Pedro Pellegrino said...

Puta merda! como diz o Pierre:"roubei".Abraço.

 
At 8:02 AM, Anonymous Anônimo said...

Fica à vontade, brother. Grande abraço

 

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