8/02/2006

A VOZ DELA

são paulo
garoa garoando

no fone
a voz dela
amor, tô chegando

desligo

tum! tum! tum!

aqui
no peito
não é engano!

(JCF)

8/01/2006

SOBRE NÓS

Uma borboleta pousou na beira da cama. Abriu e fechou as asas algumas vezes, bem lentamente, como só as borboletas fazem. Exibicionista. Voou pra fora do quarto, em direção a sala. Fechei o livro e fui atrás. Ela pousou no ombro dela. Junto das outras. Ela tava deitada no chão, alongando. A sua perna esquerda estava quase atrás das costas. Ela fazia isso diante de um espelho muito grande. Sua coxas, já muito generosas, ficavam, diria, solidárias com minhas retinas! Algumas borboletas, vindas dos bairros distantes, descansavam da viagem no seu corpo. Várias, de todas as cores e tamanhos. Pousadas na sua pele morena. Fui na cozinha peguei um pouco de água na geladeira e, antes de beber, joguei um pouco na nuca. No armário, peguei minha lata de Colorgin vermelho e voltei pra sala. Ela me olhou com o canto dos olhos e com um sorriso quase que imperceptível. Conheço àquele olhar. Ele me causa transtornos cardiovasculares no ato. Chacoalhei a lata com força e fui escrevendo os poemas nas paredes da sala. Com uma velocidade absurda. Escrevia um após o outro, sem descanso. De vez em quando à olhava. Ela estava lá, diante do espelho. Alongava os braços bem alto, deixando à mostra parte do seu abdômen, liso e moreno. E eu escrevendo os poemas dela. De vez em quando, nossos olhares se cruzavam. Não dizíamos nada, mas percebíamos tudo. Quando ela não estava olhando, observava pedaços do seu corpo. Uns closes, flashs rápidos das suas curvas. Na verdade, ela fingia que não me via olhando seu corpo. Se divertia com o meu voyerismo disfarçado, um tanto acanhado. Ela parou de alongar e acendeu uma vela. Era perfumada. Feita de girassóis. As borboletas voaram num único movimento. Sumiram. Ela encostou na parede, de braços cruzados e sorriu. Seu cabelo caiu na cara. E, com o seu rosto levemente inclinado pra frente, ela me encarava de baixo pra cima. Assumindo um clima desafiador. Como que esperando uma ação. Eu já estava com o braço doendo de tanto escrever. Sentei no chão. Ela sentou do outro lado. Ficamos olhando todas os poemas. Todas as paredes repletas de poemas pra ela. Contamos um, dois, três... trinta... cem... 1.000 poemas. Exatamente mil. E todos começavam com Baby e terminavam com vida. Nos encaramos por um tempo. Ela levantou e foi em direção ao quarto. E me olhou, daquele jeito. Pronto! Arritmia cardíaca no ato. Antes de entrar no quarto, ela piscou. Aquilo era como um cruzado de direita no queixo. Um cruzado do punho de Mike Tyson. Joguei a lata vazia que foi rolando até a outra parede. Sorri. Levantei e fui atrás, meio atordoado, muito apaixonado. Com a certeza difinitiva de que Deus existe! Entrei no quarto, fechei a porta e acendi a luz. Gostamos de muita claridade nessas horas.
Nós 2 gostamos de ver o suor nos nossos rostos quando nos tornamos 1.

(JCF)

7/31/2006

MAIS SOBRE A SAUDADE

O pior de tudo é que a saudade é bem mais forte que xilocaína.
E o efeito, muito mais prolongado!

(JCF)

SOBRE NÓS - HAI KAI

Eu que fui, um.
Você que foi, outro.
Agora somos, dois.
Duplo. Dobro. Par.

SOBRE O RESTO DO MUNDO - 30 de Julho de 2006 - 100 anos sem Mário Quintana


" Todos esses que estão atravancando o meu caminho, esses passarão. Eu passariam..." - Mário Quintana





Mário das rimas do dia-a-dia,
Do dia dentro do dia.
Mário de Alegrete. Do Rio Grande do Sul. Do Brasil. Do Mundo.
Mas, sobretudo, Mário de dentro do Mário.
Mário da magia da poesia.
Da criação,e (re)criação em poema-prosa-crônica-melodia.
Mário da dor presente, sem ser constante.
Da inquietação dilacerante.
Mário do detalhe.
Do instante.
Mário do imaginário. Diário. Contemporâneo.
Mário tempo. Mário gentes. Mário cotidiano.
Mário passado. Mário passista. Mário passante.

(Silvia de Almeida)

"A poesia não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser" - Mário Quintana

SOBRE NÓS - Saudade

Saudade é ver a casa em ordem.
É olhar pra cadeira na sala, e não ver sua camisa pendurada.
É não ter que pensar no que fazer pro jantar.
É não tirar o frango do freezr pra descongelar.
Saudade é pôr contrariada, uma só toalha no banheiro.
É ter que lavar um copo, um prato, um garfo e uma faca, continuamente...
É não ter de enxugar suas pegadas, by havaianas, pelo chão da casa.
É não comer mamão.
Saudade, é o som desligado de manhãzinha.
É não ter que te acordar à noite, à tapas, por causa do ronco.
É ter, só pra mim, a coberta todinha.
É espaço de sobra, na cama vazia.

(Silvia de Almeida)

SOBRE MIM

Brinquei com pingos de chuva. estavam gelados, escorriam pelo rosto molhado, feito lágrimas. Tirei meu tênis surrado, e as meias já encharcadas, corri pra uma poça e chutei água de chuva neles.
Fiquei aguardando o esporro com olhos arregalados de quem se arrepende já tarde demais... pensei que fossem atpe me bater, quão furiosos eram os seus olhares.
Mas de repente, estávamos ali. Quatro amigos. Chutando poças, correndo descalços na chuva em pleno Largo dos Guimarães, ponto do bonde de Santa Tereza.
A nossa volta, um aglomerado de gente nos olhava entocada nos bares, protegendo-se da água gelada que descia dos céus. Pude ver em seus olhos o desejo de aceitar o convite e viajar conosco no tempo.
Que pena! Ficaram apenas olhando. esqueceram que em algum lugar dentro de todos nós, conservamos sete anos!

QUEM DERA SER O POETA DA VILA

Bem que Deus podia ter-me feito poeta
Desses, com mão cheia de carinho, sereno e prosa
Um poeta inspirado!

Nas tuas curvas, coxas e formas
Um poeta boêmio-abstêmio

Arrebatado, apaixonado e febril
Incoerentemente capaz com as rimas

E um tanto gentil!
Um poeta como o Noel
Talentoso no Rio

No mar
Na Vila Isabel!
Um poeta insone

Acolhido na tua cama
Um poeta perfeitamente louco
Entretido no teu olhar

Meio tonto!
Ainda atordoado com o teu jeito
Um poeta dormindo no teu sonho!


(JCF)